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para começar. Escreveu... Apagou... Escreveu... Rasgou... Escreveu e
definitivamente começou. A música que tocava não ajudava em nada, mas era necessária. O dia estava daqueles lindos em que todo
mundo coloca uma roupa “fresquinha” e vai pra fora. Mas ela não. Os olhos tão
inchados que pareciam quase dois de cada.
Com o passar do
tempo as mãos se afastam do coração... começam a querer seguir caminhos
delicados e as vezes controversos. O amor deixa de começar por ela... o amor
deixa de estar nelas.
Perdi as contas de quantas vezes me aproximei de alguém
apenas para me sentir alguém. Sabe o que é isso? Fui o patinho feio a minha
vida toda. Preferi a ultima carteira, preferi o moletom e o rabo de cavalo. Eu
preferia mil vezes que meu nome não fora jamais exposto em nenhum lugar e que
muito menos passasse pela boca de alguém. Arrepio.
Quantas paixões
foram escondidas e reprimidas? Quantas lamentações e arrependimentos. E quantas
e quantas vezes que me deixei ser o que quisessem que eu fosse. Mas daí, pela
primeira vez, alguém estava do outro lado. A travessia era mais calma, água
rasa e apoio para atravessar. Veio devagar... não era um maremoto. Ondas do fim
de tarde de domingo. Não era possível saber se era amor... ou apenas gratidão
por devolver o sentimento, sendo ele qual fosse. Chegar do outro lado nunca foi
tão fácil. Encontraram-se braços, abraços... e já era hora de voltar. Não durou
muito tempo. Mas foi o primeiro passo.
Sentir o amor sempre
fora bom, mas sentir o amor próprio era infinitamente maravilhoso. E então
aconteceu de novo. Outra travessia, dessa vez um pouco menos tranquila, mas
ainda sim com certo amparo. Mas... nem chegou a colocar os pés na areia. Guardou-se
no abrigo. Deixou a maré mudar. E ela mudou.
Havia alguém do
outro lado sim, mas era maré alta e com previsão de muita tempestade. Não havia
apoio, nem segurança, apenas a certeza de que, se chegasse do outro lado,
estaria finalmente bem. Se despiu do medo e da insegurança e se jogou mar
adentro. Foi uma travessia horrível, bateu em pedras e corais, engoliu água
salgada, enfrentou criaturas marinhas e quando achava que poderia desistir,
pois o caminho parecia apenas aumentar, finalmente sentiu a areia por baixo dos
pés. Não era o lugar mais firme em que pisava, mas com certeza era onde queria
estar. E ela estava lá.







