Acordou como todos os dias, reorganizou os compromissos na cabeça e criou coragem para encarar o mundo lá fora. Chovia. Olhou pela janela e viu o vizinho tirar o carro para levar as crianças... eram três.
Água na cafeteira, água no chuveiro e água lá fora. E por dentro? Muita água. Banho, Roupas, Cabelo, Café, Documentos, Bolsa, Chave... e chuva.
O mundo lá fora, por mais cinza que estava, parecia mais movimentado que nunca. O guarda sorria dentro da capa, a criança surpresa com as gotas caindo, o chefe de olho na secretária e ela de olho no mundo. O dia chuvoso passou como num piscar de olhos. Fez tudo que precisava em tempo recorde, menos o almoço que foi engolido como uma enxurrada. Fim do dia. Bater ponto. Hora de voltar.
Carro ligado, trânsito caótico, agora ninguém sorria. Ela sim. Sorria por que tudo ia bem, sorria por que o tempo fora favorável, por que a água continuava caindo lá fora e la dentro. Estava encharcada por dentro. A música francesa no carro fez com que o tempo passasse ainda mais rápido, logo estava em casa. Carro na garagem. As crianças do vizinho sorriam da garagem.
Chave, Porta, Bolsa no Sofá, Sapatos no Carpete, Presilha no Cabelo, Afago no Gato, Porta da Cozinha... e chuva.
A grama úmida e gelada refrescou os pés de um dia inteiro, a chuva era fina mas ainda caia, sentou-se ali mesmo. Nem o gato entendia, olhava de dentro da cozinha como quem pergunta se tudo está bem. Ficou ali. A chuva fina demorou a molhar de verdade. Até que os cabelos pingaram.
O rosto encontrava-se repousando sobre os joelhos.
O dia se foi... A noite chegou.
Hora exata. Levantou-se, caminhou alguns instantes pelo jardim. Viu coisas que não via a tempos. Campainha tocou. Lançou-se em direção a porta.
Porta aberta, Sorriso, Abraço, Carinho...
E tudo fez sentido mais uma vez!
Com a chuva TUDO floresce.






